16 de julho de 2010

THOR - O ARTESÃO





No antigo Egíto, um jovem artesão olhava para o reluzente artefato de metal que acabara de construir - uma espada de prata -. A mais bela espada que ele já havia feito.Todo o seu talento, paciência e aprendizado durante anos ao lado de seu pai, estavam alí, esculpidos e entalhados no precioso metal. Assim que o trabalho ficou pronto, guardou-a com cuidado, escondendo-a dos olhos ambiciosos dos barbaros que rondavam por ali.

Ele era um jovem triste e calado, quase não falava com ninguém, não tinha amigos e morava sozinho. Dizem que a morte de seu pai o havia deixado assim, solitário e sem brilho nos olhos. Passava o dia todo trabalhando na antiga oficina de seu pai, fazendo o único trabalho que sabia - construir espadas - nada mais o interessava.

Certo dia, ao cair do sol, um cavaleiro estranho aproximou-se e disse:
– Eu preciso de uma boa espada, a melhor que você tiver aqui.
– Tenho várias espadas e todas são boas.
– Como você pode saber de que tipo de espada estou falando? Você pode entender tudo de espadas, mas não entende nada de lutas. Existe uma espada pada cada tipo de luta, e eu preciso daquela que me fará vencedor – Bradou o homem.
– E como posso saber o tipo de espada o senhor procura? Pode me dizer o que o vai combater?
– A mim mesmo. Preciso da sua melhor espada para arrancar do meu peito um amor que me distrói, que me faz fraco, pequeno e dilacera meu coração. Preciso acabar de vez com essa tortura.
O jovem levantou-se tranquilamente, dirigiu-se até o armário e trouxe a sua melhor espada, aquela que ele havia preparado com tanto amor e carinho. Entregou-a ao cavaleiro e disse:
– Senhor, aqui está a minha melhor espada. Levei anos para constuí-la e acredito que é o que o senhor procura. Não vou cobrar nada por ela, apenas peço-lhe um favor com forma de pagamento.
O cavaleiro segurou-a firmemente. Olhava-a sob todos os ângulos, estava encantado para a belíssima espada que brilhava em contraste com os últimos raios de sol. Tocou nela, ergueu-a para o alto e sentiu sua leveza. Era um metal diferente, não conhecia nada parecido. Não prestou muita atenção ao que o rapaz disse, mas respondeu dizendo que faria-lhe qualquer favor em troca daquela espada encantadora.
Assim, o jovem disse:
– Meu nome é Thor, sou artesão como meu pai, vivo para construir espadas mas nunca aprendi a usá-las. Porém hoje eu lhe peço que fique com a minha melhor espada, mas primeiro use-a em mim. Atravesse-a em meu peito e depois pode fazer o que quiser com ela. Ela será sua.
O cavaleiro olhou-o com espanto, ficou mudo, não sabia o que dizer. Jamais poderia imaginar que o rapaz lhe fizesse tal pedido. Ficou sem ação. Nem se lembrava mais da sua dor, percebeu que não era o único no mundo há combater as dores do coração.
E Thor continuou:
– Também preciso combater a mim mesmo, sofro do mesmo mal que o senhor, mas ainda assim considero-o mais feliz, porque sabe usar uma espada, e eu não.
– Me desculpe, Thor, porque não poderei aceitar a sua oferta. Sempre usei minha espada para combater o mal e meus inimigos. Não posso usá-la contra você porque hoje você é meu amigo. E se você quiser atravesá-la em seu peito, terá que fazê-lo sozinho, mas antes disso eu vou te ensinar a usar uma espada e isso demanda muito tempo e coragem. Hoje você deixará de ser "Thor, o artesão" e será: "Thor, o guerreiro". Aquele que venceu a si mesmo.
E os dois seguiram pelo deserto, agora unidos pela mesma causa e em busca da mesma cura.